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segunda-feira, 19 de agosto de 2019

O coletivo particular

Quero escrever um pouco do que tenho pensado sobre Teatro Lambe-Lambe, da sua peculiaridade como linguagem e sua força particular no coletivo.

Quarto de bebê...a formação do inconsciente...

Esta linguagem foi criada, em 1989, por Denise di Santos e Ismine Lima que se inspiram no aparato, na máquina, na caixa escura dos fotógrafos Lambe-lambe da época. E que por uma demanda peculiar, iriam apresentar uma cena de parto à meninas de uma comunidade, assim nasceu a "Dança do parto"... o Teatro Lambe Lambe. 
Subverteu-se a função desta caixa/máquina que ao invés de registrar uma cena externa, um momento, que é a fotografia, Ismine e Denise fazem o espectador olhar para dentro da caixa, e encenam para um público de uma pessoa só, um mini espetáculo.
O momento do nascimento não poderia ser mais simbólico, a metáfora real e imaginária do nascimento, a cena de um parto. Pariu-se o que hoje é um movimento mais que particular, é coletivo, é nosso, da nossa cultura.
Exposição Teatro Lambe Lambe- FESCETE 2019- Santos/SP

Mas o que é cultura? Somos o resultado do nosso meio cultural, dos usos e costumes. Herdeiros de um longo processo acumulativo que reflete o conhecimento e as experiências adquiridas pelas numerosas gerações que nos antecederam e que a manipulação adequada e criativa deste patrimônio cultural é que nos permite inovar e criar. E o que criamos não é produto de nossa ação isolada, mas o resultado do conhecimento de toda uma comunidade, de uma geração, que compartilhamos e potencializamos. (LARAIA, 2004, p. 46-49) 

Na varanda...uma reflexão sobre o perdão...

Atualmente, vivemos uma mudança cultural, e esta "é como uma lente através da qual o homem vê o mundo" (BENEDICT, 1972)
O ser humano, portanto, vê o mundo através de sua cultura, se identifica ou não com ele, entra em conflito ou aceita-o .
O Teatro Lambe-Lambe, não é somente um espetáculo em pequena escala. É um encontro, rápido e potente, que num mínimo espaço e em poucos minutos compartilha-se mundos particulares. Essa é sua essência.
Coletivo "Espiá" nas ruas de Curitiba

Não é o Teatro movendo a plateia num discurso compartilhado, incitando o publico para uma "ideia comum"! É um movimento coletivo, movendo o particular para uma reflexão individual ! A revolução do um(a) a um(a).
Considerando que a nossa cultura está ameaçada por ações e ferramentas globalizantes, que nos faz cada vez mais distantes de nossa essência singular criativa e que tem nos lançado para esta cultura massificada, o Teatro Lambe-lambe é nossa micro revolução*, pois se o ser humano é produto da cultura, pode-se inferir que o Teatro Lambe Lambe é a cultura do coletivo particular.


AnimaRua...a alma das ruas...

Instigo, portanto, o teatro Lambe-Lambe é uma linguagem revolucionária para este momento na nossa história? Seu surgimento no mundo não foi um acaso. Assim como a vida de cada ser humano, que nasce, vive a infância, adolesce, amadurece, o movimento lambelambeiro, também amadureceu, e está no momento exato nas ruas, cumprindo sua missão no mundo. Está exatamente onde e como deveria estar, oferecendo à humanidade o que foi perdido, esquecido, aquilo que o ser humano substituiu por outros artefatos e comportamentos idealizados pela cultura de massa: ter a autonomia do seu olhar! ver o outro e a si mesmo pela via da arte.


Coletivo Espiá
Foto: Rogério Rocha

Este ano o Teatro Lambe Lambe completa 30 anos de existência, e marca a resistência do movimento de rua, do(a) artista de rua! Somos muitos, somos únicos! (Inecë Gomes)

* Micro revolução foi citada por Júlia Barnabé no I Encontro de Caixeiro, em Ribeirão Preto, São Paulo, 2018, quando se referiu ao Movimento dos artistas de Rua.

BENEDICT, Ruth. O crisântemo e a espada: padroes da cultura japonesa. 1972

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico.17 ed. Rio de Janeiro:Jorge Zahar, 2004.




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